O que é Mindfulness?

A primeira vez que entrei em contato com Mindfulness ou Atenção Plena há uns 8 anos atrás foi por um motivo bem comum acredito, que é aprender a focar mais no presente e aprofundar nos conhecimentos meditativos. Notava minha mente muito agitada com uma avalanche de pensamentos sem fim e já ao iniciar o dia, sentia um peso no corpo que advinha da mente pesada de tantas ruminações sobre o passado que poderia ter sido diferente ou pensando num futuro perfeito. Achava que a meditação ia me ajudar a me tornar uma pessoa mais calma e que nada mais me afetaria tanto, deixando minha mente mais domada! E essa foi minha grande viagem. Certa vez, eu realizava um treinamento que por sorte minha, foi com um monge budista que veio fazer uma visita aqui no Brasil e deu orientações e ensinamentos sobre como meditar. Eu na minha ignorância (falta de conhecimento), achava que meditar era deixar a mente em branco e dei a bobeira de na hora da partilha dizer que fui para um lugar na mente em que deixei a mente em branco. Bom, a resposta dele foi bem clara para um bom entendedor, ele disse: Ah, então você toma algum remédio? Eu disse: não... e ele concluiu que eu devia estar babando ou em torpor. Achei tanta graça da resposta dele e notei naquele momento que realmente eu não sabia nada de meditação!

Eu acreditava que meditar era sentar, deixar a mente em branco e esperar a iluminação com o tempo. E nada iluminava, na verdade com o tempo aprendi que é o contrário, meditar é olhar para a vida do jeito que ela se apresenta, sem usar de subterfúgios como entrar em torpor, ir para um lugar da mente mais agradável com unicórnios, ou ouvir a todo tempo sons de pássaros ou da natureza. Fui aprendendo a ficar com o meu silêncio, a ouvir o que se passa dentro de mim, perceber e notar a natureza real da minha mente com tudo que chega na minha experiência de vida. Mas sem a abertura e gentileza que Mindfulness sugere, nada disso é possível.

Indo para o conceito de Mindfulness que é laico, trata-se de um estado da mente mais atento, que reorienta as nossas ações de forma que possamos ter maior manejo dos pensamentos, autoconhecimento corporal e regulação emocional.

É um estado mental que pode ser incorporado ao cotidiano de vida, através do uso de práticas meditativas e dinâmicas que naturalmente trazem uma maior qualidade de vida, já que passamos a ter mais clareza das situações e com isso escolhas mais conscientes. Mindfulness não quer dizer meditação, mas sim um estado da mente humana e a meditação é a técnica utilizada para a sua compreensão.

Mindfulness, na lingua Pali - Sati, quer dizer memória, retenção mental. Habilidade de trazer à mente o que foi feito ou dito há um longo tempo. Não literalmente como memória, mas como aquilo que facilita e permite a memória. Se Sati está presente, a memória será capaz de funcionar bem. Lembrar de manter a consciência. (Analyo, 2003, Batchelor, 1997 apud Grossman et al, 2011).

Representa a habilidade de simultaneamente manter na mente os vários elementos e facetas de uma situação particular. Aplica-se assim, em ambos, à faculdade de memória e à consciência do momento presente.

Mindfulness consiste em observar sem criticar e em ser compassivo consigo mesmo. Essas qualidades podem ser modeladas quando passamos a ter uma qualidade de atenção mais focada, trazendo aspectos de leveza em relação aos desafios cotidianos de vida. Quando a infelicidade e o estresse ocupam sua cabeça, em vez de levá-los para o lado pessoal, passamos a tratá-los como simplesmente nuvens negras que passam no céu e as observamos com curiosidade enquanto se afastam.

Mindfulness permite que você capte os padrões dos pensamentos negativos antes que eles o lancem numa espiral descendente. Esse é o início de retomada do controle de sua vida. E com o tempo através do cultivo de práticas meditativas que treinam atenção, contemplação de situações cotidianas, de construção de mais compassividade diante da vida, isso vai provocando mudanças de longo prazo no estado de humano e nos níveis de felicidade e bem-estar.

Estudos mostram que não só previne a depressão, como afeta positivamente os padrões cerebrais responsáveis pela ansiedade e pelo estresse do dia a dia, fazendo que com que, uma vez instalada, essa condição se dissolva com mais facilidade durante o processo. Outros estudos indicam que meditar regularmente faz com que pessoas passam a ter uma imunidade maior, passem menos dias no hospital, se preciso for. Além de melhora na memória, a criatividade aumenta.... os benefícios são inúmeros.

Embora mindfulness – ou a meditação baseada em atenção plena – esteja em alta atualmente, a prática existe há milhares de anos. O que mudou é que agora a humanidade tem meios científicos de entender como ela muda o cérebro, explica a advogada professora de mindfulness Jeena Cho, em seu artigo na Forbes.

Mindfulness não está a favor ou contra as experiências agradáveis ou desagradáveis. Visa apenas o desenvolvimento de se tornar mais consciente da experiência na hora em que ela acontece com uma atitude mais gentil, curiosa e interessada.

Mindfulness traz tantos aprendizados, um deles que me ajudou muito foi criar a habilidade de me manter mais consciente da minha postura ao trabalhar, sentia muitas dores na coluna e hoje já não tenho mais, mantenho-me ereta respeitando o "S" da minha coluna que super agradece esse autocuidado e gentileza com meu corpo. Algo muito relevante para mim foi a autorregulação emocional, antigamente eu perdia a cabeça por muito pouco, hoje crio janelas de respiro e deixo a raiva, o desconforto, a resistência passar e reoriento minhas ações. Todos somos reativos demais diante das adversidades e tendemos a dizer "não" a tudo sem ao menos pensar, e isso tudo por conta do nosso modo padrão de atuação da mente que é tão presente em nós! Outro aspecto que me ajuda muito é controlar a enxurrada de pensamentos, quando observo a chegada de um pensamentos que vão gerar outros e outros, utilizo técnicas de mindfulness e deixo ir.

Para mim, Mindfulness é se aperceber na Vida, as reações normais diante dos desafios, ter essa capacidade que naturalmente não temos de nos notar ficando nervosos no trânsito e as atitudes impensadas que tomamos, é notar o sabor da comida mais presente, é o olhar para as várias tonalidades que uma uva passa tem, é notar o toque do ar frio ou quente que toca o corpo de momento a momento, é realmente estar presente com uma pessoa a ouvindo com carinho e não ficando num monólogo entre dois em que um fala algo e o outro invés de estar com a pessoa já pensa sobre si mesmo e o que já aconteceu com ele sobre aquele determinado assunto, é sentir a grama com os pés e notar que a textura, a cor, a vida que está inserida nas várias horas, minutos e segundos da nossa existência.

Por isso eu sempre convido: medite, medite e medite.... com atenção plena... trazendo uma mente mais aberta, com leveza e entrega ao que se apresenta!